Oh! Alagoinhas, saudades sinto de um tempo em que o céu refletia em teus límpidos
espelhos d’água e nele banhou-se na companhia da Lavandeira, passarinho que lava as
roupas de Deus. Lugar este onde um dia habitaram os aborígenes nas margens de tuas
águas. Em teus tabuleiros passaram boiadas e vaqueiros da Fazenda dos Garcia D’ávila
da Praia do Forte viajando com destino ao Piauí. Estes tropeiros e sertanistas viajavam
procura da sorte e de tuas águas eles beberam juntamente com seus animais. Sabiam
eles ser este liquido vivificante o segundo melhor do mundo?
Quantas lendas se fizeram sob tuas águas? Ora encantadas, mergulhadas em mistérios e
causos do arco da velha. Quem tem coragem de duvidar? De quantos rios se fazem tuas
artérias? O sangue que pulsa em ti, em nós alagoinhenses.
Quantas lagoas os sapos coaxaram o teu nome em coro uníssono em tempos idos. Os
índios Tupinambás originários do povo alagoinhense mergulharam nas águas do teu
esquecimento para um dia renascerem em nossa consciência e em nossos costumes
despercebidos. Quanta poesia escorreu por entre teus leitos de doces águas agrestes com
cheiro de mato verde. Oh! Fonte dos Padres tu que fora conhecida como Lagoinha e
tinha o poder curativo por ter em teu entorno muita salsa silvestre; Lagoa da Santinha,
Rio Catu, Rio Sauipe, Rio do Quirico, Riacho do Mel, Fonte do Lima, Rio das Pedras
ou Jacaré de Dentro, Lagoa da Cavada, Fonte de Dona Jo no Buri.
Em tuas águas somos todos encontros de nós mesmo. Descobrimos em nós a água que
circula tuas veias, que alimenta teus mananciais e lagunas, ainda que hoje se encontram
abandonadas, soterradas pelos ditames do progresso tão indiferente as tuas águas e os
teus sonhos aquáticos milenares. Quantas histórias passaram sobre teus trilhos e no
lombo dos teus cavalos e mulas! Quantos por teus caminhos em romaria oraram e com a
concha das mãos beberam a ti e pelos dedos viram tuas lágrimas escoarem pelas
incertezas de novos tempos.
O que outrora vislumbrou ilustre e antigo Beato português para se estabelecer na
proximidade de teus mananciais? Oh! Tu cidade berço meu, em tua majestade e
imponência recebera o título de “Pórtico de ouro do Sertão”.
Na tua primeira Igreja inacabada e hoje Ruínas se fixou o teu marco Zero. Alagoinhas,
terra feita de pequenas lagoas de que somos feitos. Em mim te reflito e em ti mergulho
como se a buscar a parte liquida que me compõem. O continente aquático que és, sob
nossos pés jazem riachos, rios, córregos, lagoas, minadouros, olhos d’água como se a
chorarem por não mais verem o sol.
Alagoinhas que tuas águas sejam ainda melhores, meus parabéns.
Ed Carlos Alves de Santana -Artista Plástico e Mestre em Artes Visuais pela EBA-
UFBA
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