O Brasil montou uma representatividade continental para estar presente na COP 27, em Sarhm El Sheik, no Egito. A importância de ter representantes brasileiros no evento é inquestionável. Mas o Brasil mandou uma comitiva onde tem representantes dos três poderes, de todos os estados e até alguns municípios.
A proximidade com a Copa do Mundo, que acontece logo após o encerramento do evento internacional, dá a dimensão exata de que o Catar é logo ali, uma distância de 2199 Km, semelhante à distância entre São Paulo e Recife, e muitos vão aproveitar e se esconder atrás dos véus árabes, óculos escuros e túnicas catares.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, não vai participar do evento, mas o país será representado pelos ministros das relações exteriores e de Meio Ambiente, que vão defender teses de que o Brasil é o único país do mundo capaz de proteger o planeta. E pode tirar dividendos com o crédito de carbono, bem como apresentar os avanços na implementação de energias limpas como a solar e eólica, que juntas abastecem a mais de 40 milhões de pessoas.
O PT, que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também terá, além do futuro gestor, uma bancada grande composta também por políticos de partidos aliados, bem como de ex-ministros disso, ex-ministros daquilo, todos candidatos e um cargo no futuro governo.
A Justiça já foi e, antes de Doha, participou de eventos internacionais nos Estados Unidos. Juízes do STF foram hostilizados quando adentravam os hotéis e restaurantes, considerados muito caro para um país que ainda não está comendo picanha.
Com os três poderes presentes, como ficarão a apresentação das propostas? Atuais ministros e ex-ministros vão apresentar propostas distintas ou vão unificar os discursos? Claro que não vão unificar os discursos, até porque são governos diferentes, políticas idem, e interesses díspares.
Quanto à unificação de ideias é consenso, não haverá. Mas a conta, quem vai pagar a conta desse passeio ideológico e comercial por Sharm El Sheik, um dos lugares mais caros do mundo, bem como aquela esticadinha em Doha, a capital mais cara do mundo por metro quadrado?
Poucos países no mundo enviaram bancadas tão representativas como o Brasil enviou ao Egito. Vão me dizer que poucos países no mundo tem os recursos naturais que temos, o uso largo e o investimentos em energias renováveis e a possibilidade de transformar tudo isso em recursos para investimentos internos como os investimentos em carbono.
Quem vai pagar a conta somos nós, pobres mortais, contribuintes, que terão que arcar com a picanha consumida em Nova York, Sarm El Sheik ou Doha. Que os frutos colhidos sirvam para pagar a conta das promessas de todo mundo comer picanha no Brasil, mesmo metaforicamente.
“Não se come a carne onde se ganha o pão”, diria um ex-chefe que me aconselhava a não olhar para as beldades que se nos apresentavam.
Vanderley Soares
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