Edgard Torres veio do sertão para Alagoinhas montado no lombo do burro, ou de pau-de-arara, ou de carona na Rural da Prefeitura nos anos 1950. Ele e mais três irmãos. Associou-se a um deles e abriram um armazém na Feira do Pau, o point do comércio de Alagoinhas. Juntou-se a eles um outro irmão, mas como funcionário. O terceiro, em uma história tipo Romeu e Julieta, estabeleceu-se como comerciante na hoje Travessa J.J. Leal, na Praça Kennedy, presente do seu sogro. Seu sócio morreu precoce, o outro irmão se estabeleceu na Praça Kennedy, e Edgard seguiu sozinho no seu armazém. Comecei a trabalhar com ele em meados de 1960. Antes, como vendedor de rifas para a Filarmônica Euterpe Alagoinhense; depois, como carregador de tamborete para um jovem estudante de direito fazer palanque e discursar a vereador. Esse projeto de político falava bonito e se tornou o maior líder da região: Judélio Carmo.
Eram tempos de sonhos numa Alagoinhas esburacada e abandonada. Edgard não era só um homem honesto; ele era um homem que engarrafava sonhos em nuvens de algodão doce. Quando ele convenceu Judélio a sair do PTB (futura ARENA) e ser representante do povo na Câmara de Vereadores, ele não pensava nele, mas na legião de jovens que zanzavam feito zumbis nas noites de sexta-feira, 13, e nos pais que não viam perspectiva para os filhos nem para eles próprios.
Ele tirou a Filarmônica de uma sala e colocou na rua, para dar visibilidade à Euterpe, que todo mundo sabia que existia, mas ninguém nunca a via.
Participou de vários projetos culturais, foi o primeiro comerciante a patrocinar a transmissão de jogos pela Rádio Emissora de Alagoinhas e a contratar, enquanto teve armazém, seu próprio trio elétrico na micareta, além de que, era sócio proprietário da ACRA.
Como me disse o jornalista Vanderley Soares, ontem à noite: “Éramos vizinhos quando a sede do jornal era vizinho à Voz da Cidade. E sempre me dirigia palavras de sabedoria e conforto”.
O meu tio Edgard de Souza Torres era assim: um sábio. Foi o meu guia, como um pai conduzindo o filho na construção de pontes metafóricas, unindo o impossível às esperanças utópicas. Sem os seus ensinamentos, eu seria apenas um cão uivando para uma Lua torta.
Descanse em paz, meu tio!
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