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Edgard Torres, o homem que sonhava acordado

Escritor Tom Torres, sobrinho de Edgard, fala da trajetória do comerciante, sua influência na política, principalmente para Judélio Carmo (participou da cerimônia do lançamento do livro in memorian de Judéli), e sua influência para outros empreendedores.

29/06/2025 às 15h56
Por: Vanderley Soares Fonte: Tom Torres
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Foto: Arquivo Gazeta
Foto: Arquivo Gazeta

Edgard Torres veio do sertão para Alagoinhas montado no lombo do burro, ou de pau-de-arara, ou de carona na Rural da Prefeitura nos anos 1950. Ele e mais três irmãos. Associou-se a um deles e abriram um armazém na Feira do Pau, o point do comércio de Alagoinhas. Juntou-se a eles um outro irmão, mas como funcionário. O terceiro, em uma história tipo Romeu e Julieta, estabeleceu-se como comerciante na hoje Travessa J.J. Leal, na Praça Kennedy, presente do seu sogro. Seu sócio morreu precoce, o outro irmão se estabeleceu na Praça Kennedy, e Edgard seguiu sozinho no seu armazém. Comecei a trabalhar com ele em meados de 1960. Antes, como vendedor de rifas para a Filarmônica Euterpe Alagoinhense; depois, como carregador de tamborete para um jovem estudante de direito fazer palanque e discursar a vereador. Esse projeto de político falava bonito e se tornou o maior líder da região: Judélio Carmo. 


Eram tempos de sonhos numa Alagoinhas esburacada e abandonada. Edgard não era só um homem honesto; ele era um homem que engarrafava sonhos em nuvens de algodão doce. Quando ele convenceu Judélio a sair do PTB (futura ARENA) e ser representante do povo na Câmara de Vereadores, ele não pensava nele, mas na legião de jovens que zanzavam feito zumbis nas noites de sexta-feira, 13, e nos pais que não viam perspectiva para os filhos nem para eles próprios. 
Ele tirou a Filarmônica de uma sala e colocou na rua, para dar visibilidade à Euterpe, que todo mundo sabia que existia, mas ninguém nunca a via. 
Participou de vários projetos culturais, foi o primeiro comerciante a patrocinar a transmissão de jogos pela Rádio Emissora de Alagoinhas e a contratar, enquanto teve armazém, seu próprio trio elétrico na micareta, além de que, era sócio proprietário da ACRA.
Como me disse o jornalista Vanderley Soares, ontem à noite: “Éramos vizinhos quando a sede do jornal era vizinho à Voz da Cidade. E sempre me dirigia palavras de sabedoria e conforto”. 
O meu tio Edgard de Souza Torres era assim: um sábio. Foi o meu guia, como um pai conduzindo o filho na construção de pontes metafóricas, unindo o impossível às esperanças utópicas. Sem os seus ensinamentos, eu seria apenas um cão uivando para uma Lua torta.
Descanse em paz, meu tio!

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