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Cidades Turismo de quê?

Colocar Alagoinhas no mapa do turismo do Brasil é uma afronta aos polos existentes

rede hoteleira é uma das melhores do interior, mas abriga profissionais dos mercados cervejeiro e de petróleo.

10/05/2025 às 10h37
Por: Vanderley Soares Fonte: Vanderley Soares
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Foto: Arquivo Gazeta
Foto: Arquivo Gazeta

Listar o São João, o Bahia Beer, e demais eventos como fez o prefeito Gustavo Carmo quando recebeu o título das mãos do governador Jerônimo Rodrigues, em Feira de Santana, colocando a cidade no mapa do turismo é uma afronta aos polos já existentes e consolidados no Brasil, citando, inicialmente, Gramado, no Rio Grande do Sul, que se prepara 365 dias do ano para promover seus eventos.

Méritos dos eventos juninos, mas são regionalizados e não impactam tanto no turismo nacional. Mais de 90% do público é local e não usufrui da boa estrutura hoteleira da cidade. Áster, Ibis, Kasa Grande, Plaza, e tantos outros hotéis da cidade dão a Alagoinhas um ar de cidade turística, mas não é.

Em Gramado e outras cidades gaúchas são inseridos os elementos culturais, a influência europeia, a participação de jovens, adultos, idosos, o apoio e o ganho do comércio local, dando às cidades resultados inquestionáveis na sua arrecadação, na sua infraestrutura, na limpeza e na educação.

Podemos citar cidades do nosso Estado como Porto Seguro, onde história, belezas naturais e infraestrutura hoteleira não deixam a dever a ninguém. Lençóis, que agora vai receber um aeroporto com previsão para viagens internacionais. Itacaré, com seus atrativos e sua pujança. Ilhéus, com a rota do cacau, aliada às belezas naturais e seu patrimônio histórico aliado à preservação e influência na literatura vide Jorge Amado. Juazeiro, mesmo tendo a vizinha pernambucana Petrolina como indigesta por alcançar números melhores, deve constar dessa lista não apenas por margear o rio São Francisco, mas por preservar seu patrimônio arquitetônico, por brindar sua cultura, sua arte e seu povo.

Alagoinhas está no mapa por atrativos festivos, mas poderia estar no mapa histórico e patrimonial. A igreja Inacabada de Alagoinhas Velha, abandonada, largada e cujo portão de entrada é lacrado por 15cm de arame, tem suas paredes rachadas, blocos que despencam todos os dias. E as estações? Essas seriam motivo de orgulho para Gramado ou até mesmo em Londres, mas aqui é artigo de última qualidade.

E não é por falta de vozes. Várias vozes já ecoaram, mesmo afinadas com o Governo Federal, mas as estações continuam abandonadas, principalmente a São Francisco, cuja estrutura é de dar inveja aos europeus, mas que foi sendo abandonada desde que a RFFSA passou para a iniciativa privada e, lá se vão 39 anos com o pires na mão.

Os prédios que no passado abrigaram os curtumes e casa de fumo poderiam dar nome à rota do fumo, rota do gado, qualquer nome que lembre esse setor que foi importante na economia local no final do século XIX e até meados do século XX. Um dos prédios, inclusive, onde abriga uma empresa de seguros, está em ótimo estado, tem um zoológico construído pelo proprietário da empresa que não deixa dúvidas quanto à sua viabilidade, poderia fazer parte da tora do fumo. Ali tem história e tem um prédio preservado e bonito.

A história de Alagoinhas com os curtumes é muito grande e vem bem antes da Brespel. Quando as últimas chaminés fora m derrubadas às margens do rio Catu, ao fundo do Ninho do Bem-ti-vi, prestava-se um desserviço ao patrimônio histórico.

O antigo Matadouro Público, ao lado do Centro de Cultura, é outro desmantelo patrimonial da cidade. Ali inventou-se um tal de Boi Encantado, não durou dois anos e acabou da mesma forma que começou, sem dizer para o que veio. O povo, que não conhece aquele espaço, o chama de Boi Encantado, mas o desencanto da ignorância o deixa levar por folguedos teatrais,  e cujo resultado final abarca apenas a alguns miseráveis de alma, tornando-os mercenários da pobreza cultural e da letargia dos governantes.

O Bahia Beer é outro evento para poucos e, quando pensa em chegar a muitos, se apresenta em forma de favela e circo. Para os ricos, a bonança dos camarotes regados a uísques e caviás. Aos pobres, o circo, que vem em forma da barracas faveladas distribuídas ao longo de uma avenida que não tem estrutura para tal, regado a mini trios e carros de som que se misturam aos paredões e música de gosto duvidoso, a maioria que agride a integridade feminina, mas apoiada pelo poder público. É a canarização da cultura.

Há três anos propusemos aos empresários locais a construção do Memorial do Comércio. Apoio negado. Desde 1983, o então prefeito Judélio Carmo propôs a criação do parque da cidade, em Alagoinhas Velha, medida ratificada pelo então prefeito João Fiscina, que chegou a cercar o espaço e construiu uma cabana para a segurança do local. Os últimos prefeitos doaram às terras a várias instituições, a última ao Senai, que disse que vai destinar 15% do espaço à preservação ambiental. Mas, para construir um investimento orçado em mais de R$ 80 milhões, o Senai terá que destruir grande parte do espaço deixado por Judélio Carmo para o parque. E é por ações como essa que a cidade foi classificada em quarto lugar como menos arborizada. Sem falar que nos últimos dez anos aquele espaço foi utilizado como lixão.

Alagoinhas se encanta pela qualidade de sua água, fator inquestionável. Os rios e as cinco lagoas que deram nome à cidade poderiam estar preservados, cultuados e servindo de locais de turismo e lazer regionais e até no âmbito nacional. Em vez disso, as lagoas e os riso estão amontados de tijolos e concretos, lixo e fezes em seus canais.

Recentemente, o ex-prefeito Joaquim Neto foi questionado por nossa reportagem sobre isso, mas ele respondeu que a consolidação da estrutura de tratamento de Narandiba dará a oportunidade de canalizar todos os esgotos domésticos da cidade, devolvendo aos rios e lagoas o seu aspecto natural e, a partir daí, consolidar esses espaços como instrumentos de turismo e lazer. É aguardar e acreditar em mais uma promessa, pois, quando fez a primeira limpeza do rio Catu em 2017, o prefeito garantiu que em breve estaria pescando naquele lugar. Até hoje, a pescaria é proibida e o que se colhe ali não é palatável.

 

Vanderley Soares

DRT 4848

 

 

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